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Retrospectiva 2025: estudo de vacina da gripe aviária, nomenclatura para linhagens da dengue e testes rápidos para leptospirose: relembre pesquisas divulgadas pelo Butantan no ano

Pesquisas de vacinas contra pneumonia e tuberculose; resultados promissores do imunizante contra chikungunya e a descoberta de uma molécula extraída de aranha contra fungos resistentes também foram destaques


Publicado em: 30/12/2025

Reportagem: Camila Neumam
Fotos: Comunicação Butantan

O ano de 2025 foi marcado pela divulgação de pesquisas de impacto produzidas pelos cientistas do Butantan e pela consolidação de parcerias estratégicas entre o Instituto e instituições brasileiras e estrangeiras, que culminaram no avanço do desenvolvimento de novas soluções para a saúde pública e estudos de vigilância epidemiológica.

Uma nova candidata vacinal contra a gripe aviária desenvolvida pelo Butantan demonstrou capacidade de induzir resposta imune, conforme publicação da revista Vaccines. Outra candidata a vacina, mas contra pneumonia em aerossol, teve avanços nos estudos feitos no Laboratório de Bacteriologia em parceria com a Liverpool John Moores University (LJMU), do Reino Unido.

A definição de uma nova nomenclatura de linhagens da dengue, além da identificação da rota que demonstra como o sorotipo 3 do vírus, que causou a mais recente epidemia no país, adentrou no Brasil, foram outros estudos de destaque realizados por pesquisadores do Centro de Vigilância Viral e Avaliação Sorológica (CeVIVAS) e a Universidade Yale, nos Estados Unidos, publicados em periódicos internacionais.

Em 2025, o Butantan obteve ainda patentes de dois testes rápidos que detectam a leptospirose, um avanço no diagnóstico que costuma ser bem mais demorado. 

Veja outros destaques do ano abaixo, mês a mês.

 

Janeiro

Pesquisadores do Butantan estudam o desenvolvimento de vacina em aerossol contra pneumonia
Pesquisadores do Laboratório de Bacteriologia do Instituto Butantan estudam o desenvolvimento de uma vacina em aerossol contra infecções pela bactéria pneumococo (Streptococcus pneumoniae), causadora de pneumonia bacteriana, otite, meningite e sepse, entre outros quadros. O imunizante é considerado de baixo custo por ser o único contra o pneumococo testado na forma inalatória, sem a necessidade de uso de refrigeração e agulhas. Sua formulação mais simples também reforça o princípio de ser uma vacina barata de produzir, comparada às já disponíveis.

 

Vacina da chikungunya do Butantan mantém produção de anticorpos em 98% dos imunizados após um ano de aplicação
Dados mais recentes dos estudos mostraram que a imunidade provocada pela vacina da chikungunya, desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica franco-austríaca Valneva, se sustenta após um ano da aplicação da dose única. Os resultados foram obtidos durante o ensaio clínico de fase 3 conduzido pelo Butantan com 750 adolescentes de 12 a 17 anos que vivem em áreas endêmicas da doença no Brasil. Ao final de 12 meses de acompanhamento, 98,3% dos jovens ainda produziam anticorpos contra o vírus. O efeito positivo em adolescentes corrobora os resultados do ensaio clínico de fase 3 em adultos feito nos Estados Unidos, que incluiu cerca de 4 mil voluntários de 18 a 65 anos. A imunogenicidade foi de 98,9% e se sustentou por pelo menos seis meses.

 

Março

Vacina contra tuberculose em estudo no Butantan gera resposta mais duradoura em testes, aponta pesquisa
Uma nova candidata vacinal contra tuberculose que vem sendo pesquisada pelo Instituto Butantan foi capaz de induzir uma resposta imune celular maior e mais duradoura do que o imunizante tradicional, o BCG (Bacilo de Calmette e Guérin). Segundo dados publicados na revista Frontiers in Immunology, a nova vacina gerou altos níveis de células de memória imunológica por até seis meses em testes com modelos animais. A candidata vacinal do Butantan é composta pelo BCG (a bactéria da tuberculose atenuada) junto com um fragmento da toxina LT da bactéria E. coli, denominado LTAK63.

Mulheres lideraram 67% dos estudos publicados pelo Instituto Butantan nos últimos sete anos
Dos 1.122 artigos científicos publicados nos últimos sete anos exclusivamente por cientistas do Butantan, 754 têm protagonismo feminino: pesquisadoras, colaboradoras, técnicas ou estudantes vinculadas diretamente à instituição, ou que desenvolveram suas pesquisas em programas de pós-graduação ou iniciação científica nos laboratórios da organização. Em outras palavras: mulheres assinaram 67% dos trabalhos feitos totalmente dentro do Instituto e divulgados em revistas indexadas (associadas a uma base de dados) entre 2018 e 2024. O levantamento foi realizado pela equipe da Biblioteca Científica do Butantan, com base nos indicadores do Repositório Sapientia.

 

Abril

Pesquisa do Butantan aponta potencial uso de compostos de origem animal no combate à esquistossomose
Um artigo publicado na revista Microorganisms por pesquisadores do Laboratório de Ciclo Celular do Instituto Butantan e da Universidade de Giessen, na Alemanha, destacou, pela primeira vez, como produtos ou compostos naturais de origem animal – como venenos de serpentes, abelhas, sapos e joaninhas, entre outros –, e moléculas extraídas deles, têm potencial de combater o parasita Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose.

 

Junho

Butantan obtém patentes de dois testes rápidos para diagnóstico de leptospirose que oferecem resultados em 25 minutos
Uma equipe de pesquisadoras do Laboratório de Bacteriologia e do Centro de Desenvolvimento de Anticorpos do Butantan desenvolveu dois testes rápidos para diagnóstico de leptospirose, um de detecção pela urina e outro pelo sangue. Ambos os testes oferecem resultados em até 25 minutos, enquanto nos testes padrão o resultado confirmatório da doença pode demorar dias. As duas pesquisas já têm patentes concedidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão atrelado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Governo Federal. 

 

Julho

Butantan desenvolve sistema de código aberto para monitoramento de vírus da dengue, Covid-19 e Influenza
Pesquisadores do Laboratório de Ciclo Celular do Instituto Butantan (LCC), participantes do Centro para Vigilância Viral e Avaliação Sorológica (CeVIVAS), desenvolveram um software para vigilância genômica dos vírus SARS-CoV-2, influenza e dengue em uma plataforma de código aberto dentro do Windows. O Viral Identification Pipeline for Emergency Response (VIPER) tem como objetivo permitir a pesquisadores, que não necessariamente têm familiaridade com servidores como Linux (sistema operacional de código aberto e gratuito), incluir amostras epidemiológicas sequenciadas.

 

Agosto

Candidatas vacinais de gripe aviária do Butantan induzem defesa pelo sistema imune, mostra estudo publicado na Vaccines
Pesquisadores do Centro Bioindustrial do Butantan produziram e testaram em escala industrial três candidatas à vacina contra vírus da gripe aviária que provocaram resposta imune em modelos animais quando combinadas com adjuvante e oferecidas em duas doses. As conclusões foram publicadas na revista Vaccines por pesquisadores do Instituto Butantan, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A formulação vacinal com o vírus influenza A(H5N8/Astrakhan) se mostrou imunogênico e mais adequado para os vírus H5N1 do clado 2.3.4.4b. 

 

Setembro

Supercomputador Vital impulsiona pesquisa de novos remédios e inovação no Instituto Butantan
O Instituto Butantan conta uma “arma secreta” computacional que, embora altamente tecnológica, remonta à sua história centenária: o servidor Vital. Batizado em homenagem ao médico sanitarista e fundador do Instituto Butantan, Vital Brazil (1865-1950), o Supercomputador Vital mais que dobrou a capacidade de processamento computacional da instituição desde a instalação do primeiro servidor de alto desempenho, em 2013. Por meio dele, é possível agregar e fazer análises de milhões de dados com o objetivo de encontrar novos alvos terapêuticos e moléculas farmacêuticas com mais rapidez.

 

Pressão predatória pode moldar comportamento de defesa e outras características das serpentes insulares, mostra pesquisa do Butantan
Uma pesquisa conduzida por cientistas do Laboratório de Ecologia e Evolução do Butantan (LEEv) investigou como a pressão predatória de duas ilhas do litoral paulista pode ter influenciado não apenas o comportamento defensivo, mas também outras características de jararacas endêmicas das localidades, contribuindo com ideias valiosas sobre a evolução dessas espécies. O estudo integrou a pesquisa de doutorado da técnica de apoio à pesquisa científica e tecnológica do Butantan Karina Banci, e foi publicado na revista científica Amphibia-Reptilia.

Estudo mapeia áreas de maior risco para picada por serpente no estado de São Paulo e características dos acidentes
Uma pesquisa com participação do Instituto Butantan, publicada na Revista Brasileira de Epidemiologia, apresentou uma análise epidemiológica detalhada dos acidentes com serpentes em São Paulo e identificou as principais áreas de risco no estado. De acordo com a publicação, os incidentes com jararaca foram mais frequentes, concentrando-se sobretudo nas regiões sul, sudeste, norte e no litoral paulista. Já as picadas por cascavel apresentaram maior incidência na parte central, nordeste e noroeste do estado. Embora represente pouco mais de 1% dos casos, a coral-verdadeira também exige atenção, uma vez que espécies do gênero foram encontradas em todo o estado paulista. 

 

Outubro

Estudo do Butantan demonstra que linhagem do sorotipo 3 da dengue entrou no Brasil vinda do Caribe e Costa Rica
Um estudo do Instituto Butantan investigou a reemergência do vírus da dengue tipo 3 (DENV-3) no Brasil entre 2023 e 2024, e concluiu que ela ocorreu como resultado de múltiplas introduções internacionais, e não por circulação interna. A pesquisa foi realizada por cientistas do Centro de Vigilância Viral e Avaliação Sorológica (CeVIVAS) e publicada na revista Virus Evolution, da Universidade Oxford, na Inglaterra.

Molécula extraída de aranha tem potencial contra fungos resistentes, aponta estudo do Butantan
Pesquisadores do Instituto Butantan descobriram uma molécula no sangue da aranha Acanthoscurria rondoniae, uma espécie de tarântula da região amazônica, que pode se tornar uma aliada no tratamento de fungos resistentes. Batizada de rondonina, a molécula foi capaz de eliminar fungos do gênero Candida e Trichosporon em testes in vitro e in vivo. Além disso, seu mecanismo de ação mostrou-se específico para os patógenos, indicando baixo risco de toxicidade, de acordo com estudo publicado na revista In Silico Pharmacology

 

Pesquisa do Butantan define nova nomenclatura de linhagens do vírus da dengue para otimizar vigilância genômica
Um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Vigilância Viral e Avaliação Sorológica (CeVIVAS) do Instituto Butantan, em conjunto com outras 23 instituições, incluindo a Universidade Yale, dos Estados Unidos, definiu um novo sistema de nomenclatura para linhagens do vírus da dengue (DENV) a fim de complementar a classificação por genótipo. A pesquisa A new lineage nomenclature to aid genomic surveillance of dengue virus (Uma nova nomenclatura de linhagem para auxiliar na vigilância genômica do vírus da dengue, em tradução livre) foi publicado na revista científica PLOS Biology.

10 anos de Zebrafish: plataforma de pesquisa do Instituto Butantan comemora aniversário com lançamento de livro
Em 2025, o Instituto Butantan celebrou a primeira década da Plataforma Zebrafish – iniciativa que utiliza o peixe paulistinha (Danio rerio) em pesquisas do setor de neurociência, farmacologia, toxicologia e biomedicina. Desde seu lançamento, em outubro de 2015, a plataforma motivou a publicação de 30 artigos, a realização de cinco exposições e permitiu a criação de cinco projetos e vários livros que levaram os cientistas envolvidos com a iniciativa a escolas. Para celebrar o aniversário, a plataforma promoveu o lançamento do livro Zebrafish: análise comportamental como uma poderosa ferramenta

 

Dezembro

Escorpiões típicos de regiões quentes já são encontrados no Sul do Brasil, mostra pesquisa do Butantan
Uma pesquisa de biólogos do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan apontou a identificação inédita da presença de uma espécie de escorpião típica de climas quentes – o Tityus confluens – no Sul do Brasil. O novo registro é a primeira confirmação formal da espécie na região e contribui para atualizar o mapa da distribuição do T.confluens no país, já que a espécie era registrada apenas nos estados do Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí e Tocantins.