Um estudo do Instituto Butantan vai desenvolver terapias complementares para picada de cobra e ajudar a ampliar o acesso aos soros antiofídicos na região amazônica, onde esses acidentes são cinco vezes mais frequentes do que no resto do país. Intitulado “Avanços no tratamento dos acidentes ofídicos: estudos pré-clínicos e clínicos, tratamentos alternativos e descentralização da distribuição de antivenenos para áreas remotas da Amazônia”, o projeto foi contemplado, no final de 2022, pelo edital Iniciativa Amazônia +10, do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). A pesquisa é feita em parceria com a Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), de Manaus, e a Universidade Federal do Acre (UFAC).
Uma das metas é identificar medicamentos já disponíveis no mercado que possam minimizar os efeitos do veneno, ganhando tempo para os pacientes que vivem em regiões remotas e com difícil acesso aos hospitais onde há aplicação do soro. Após o acidente, o ideal é que o indivíduo seja tratado em até 6 horas para evitar complicações, mas isso nem sempre é possível. “Tem pessoas que demoram mais de 24 horas para receber atendimento. Quando o paciente chega, a lesão já está avançada e pode ocorrer necrose, amputação do membro afetado e, em alguns casos, até a morte”, afirma a pesquisadora do Butantan Ana Maria Moura da Silva, que coordena a iniciativa em São Paulo.
Como solução, a cientista estuda inibidores usados para tratar intoxicação por metais pesados, já existentes no mercado, e testa esses compostos em modelos animais, com o objetivo de bloquear a ação das metaloproteases. Esta classe de toxinas é a mais abundante e a mais tóxica do veneno da jararaca – espécie responsável pela maioria dos acidentes com cobra no Brasil. “As metaloproteases carregam átomos de zinco e dependem dele para estarem ativas. O fármaco remove o metal da enzima, inibindo a sua atividade”, explica. No envenenamento, a toxina degrada a matriz extracelular (que envolve os tecidos e os vasos sanguíneos), causando hemorragia e aumentando a inflamação no local.
A vantagem da estratégia de reposicionamento de fármacos é a agilidade: por se tratar de uma droga que já passou por ensaios clínicos e tem mecanismos de ação e toxicidade conhecidos, o estudo