Já começaram em Ribeirão Preto, interior do estado de São Paulo, os ensaios clínicos da ButanVac, a candidata a vacina contra Covid-19 que o Instituto Butantan deve produzir no Brasil com insumos nacionais. Fruto de uma parceria com a organização filantrópica norte-americana PATH Center for Vaccine Innovation and Access, utilizando tecnologias desenvolvidas em centros de pesquisa dos Estados Unidos, a ButanVac tem o diferencial de ser uma vacina de baixo custo, produzida a partir de ovos embrionados, e que pode mudar a forma como os países em desenvolvimento combatem o vírus SARS-CoV-2.
"Essa é uma vacina aperfeiçoada, que incorporou os conhecimentos que adquirimos com a primeira geração de imunizantes. Ela tem um potencial enorme de melhorar a resposta imunológica das pessoas e combater as variantes", explica o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas. “É uma vacina feita por meio de uma parceria com instituições internacionais, como é absolutamente normal no mundo da ciência, e integralmente produzida no Butantan.”
A ButanVac, chamada internacionalmente de NDV-HXP-S, é desenvolvida a partir da inoculação de um vírus modificado da doença de Newcastle que contém a proteína Spike do SARS-CoV-2 estabilizada. Como este vírus infecta aves e é inofensivo para humanos, ele se replica muito bem em ovos embrionados de galinhas – mesma tecnologia usada na vacina contra a influenza (gripe), a mais difundida do mundo. É uma estratégia bem diferente de imunobiológicos que só podem ser elaborados em fábricas especializadas ou que dependem da importação de insumos. Se for provada segura e efetiva nos testes com voluntários, a ButanVac tem potencial de elevar em mais de 1 bilhão por ano a atual oferta de vacinas contra a Covid-19, especialmente nos países em desenvolvimento.
A ciência por trás da ButanVac
Em vacinas como a da influenza, o vírus é inoculado em ovos embrionados porque esse ambiente favorece a multiplicação do micro-organismo. Inicialmente, o SARS-CoV-2 foi testado dessa maneira, mas havia uma dificuldade: o vírus não crescia em ovos. A solução foi unir o vírus da doença de Newcastle à tecnologia HexaPro contendo a proteína S estabilizada, formando um vírus quimérico, que já cresce bem em ovos, metade Newcastle e a metade SARS-CoV-2. O vírus morto, a partir do qual a vacina é feita, carrega a proteína S inativada quimicamente, incapaz de afetar humanos. A tecnologia do vírus da doença de Newcastle foi criada por cientistas da Icahn School of Medicine no Hospital Mount Sinai, em Nova York, enquanto a proteína S estabilizada do vírus SARS-Cov-2 com tecnologia HexaPro foi desenvolvida na Universidade do Texas em Austin. Ambas tecnologias são patenteadas.
A partir do momento que a vacina se mostrou viável, a organização PATH Center for Vaccine Innovation