Neste domingo (4), o jornal Folha de São Paulo publicou em sua edição impressa um artigo opinativo escrito pelo presidente do Butantan, Dimas Covas. Nele, o cientista retoma alguns dos estudos que comprovaram a eficácia e a eficiência da CoronaVac, vacina produzida pelo instituto em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. Além disso, condena os ataques que visam desqualificar a vacina e, consequentemente, a imunização dos brasileiros, e que têm partido de diferentes agentes.
Confira o artigo na íntegra:
Uma Vacina Sob Ataque
No Brasil, nesse momento calamitoso de crise sanitária alimentada pela incompetência de algumas autoridades públicas que privilegiaram o debate político e a ideologização da pandemia deixando o seu combate para o plano secundário, tem sido destaque o ataque às vacinas num primeiro momento e, mais recentemente, o ataque ignorante, irresponsável e inconsequente à CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan. Vivemos um verdadeiro "fla-flu" vacinal.
Essas manifestações têm duas origens distintas mas que se retroalimentam de forma perversa. Algumas com PhD desqualificam o debate que, antes de tudo, é sobre saúde pública. Os questionamentos mais comuns oscilam entre “os dados ainda não foram publicados” e “a eficácia geral da vacina é baixa”. Essas colocações refletem a má vontade com a vacina, pois estes comentadores se furtaram de analisar o repertório de dados disponíveis sobre a segurança, eficácia e eficiência da CoronaVac. Há quem preste vassalagem à ciência ocidental e às suas multinacionais. A China, país que desenvolveu inicialmente a vacina no início da pandemia, tem seu valor reduzido simplesmente por estar fora do estabelecido eixo norte-norte. O ressentimento de outros que não participaram diretamente do sucesso da vacina que garantiu o início do programa de vacinação em massa tem se disfarçado de ciência.
O mais grave é que essas pessoas qualificadas, creio que de forma não intencional, têm dado aval a um discurso de ódio presente na outra parte dos ataques, vinda de pessoas sem conhecimento científico. Deste lado temos a torcida organizada da cloroquina e de outros tratamentos mágicos, membros da coorte belzebuniana que comemora os mais de 514.000 mortos no Brasil, e que participa de equivocadas motociatas pelo Brasil. Estes não buscam um diálogo. Um “chip implantado por meio de uma microagulha” é mais factível que a comprovação científica atestada pela Anvisa e a validação da vacina pela autoridade máxima que trata de políticas públicas de saúde no mundo, a OMS (Organização Mundial de Saúde).
Estamos presenciando uma ação para desconstruir a vacina que tem o brilho de ter sido a primeira no Brasil, e que foi responsável por toda a fase inicial do Programa Nacional de Imunização. Na pior fase da pandemia as pessoas mais vulneráveis e que acumulavam os piores índices