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"Naja de Brasília foi encontrada em shopping", diz biólogo; veja curiosidades sobre serpentes no 4º episódio do podcast SaBer

Giuseppe Puorto e André Costa falam sobre animais peçonhentos e a importância da educação ambiental


Publicado em: 27/02/2023

Paixão pelos animais e educação científica são pontos em comum entre o diretor do Centro de Desenvolvimento Cultural do Butantan, Giuseppe Puorto, e o biólogo André Costa, convidados do novo episódio do podcast SaBer, lançado nesta segunda (27/2) no Canal do Butantan no YouTube. Os dois cresceram fascinados pela natureza, frequentando parques e sítios, mexendo com os mais diversos animais e hoje se dedicam ao ensino da ciência.

André é especialista em Educação Ambiental e Manejo de Animais e trabalha em prol da conscientização e respeito aos bichos. Em 2007, fundou a Buriki Educacional, empresa que atua com vivências ambientais, promovendo treinamentos, palestras e oficinas para pessoas de todas as idades. Em sua casa, ele convive com cerca de 40 animais, entre aves de rapina, répteis e anfíbios.

Para o biólogo, a educação ambiental é fundamental para combater os mitos do mundo animal e incentivar o interesse e o respeito pela natureza. “As pessoas têm medo daquilo que elas não conhecem. Por exemplo, muita gente diz que tem pavor de serpentes, mas nunca teve contato com uma. Quando você tem contato com os animais, você quebra preconceitos”, afirma.

Giuseppe, que ingressou no Butantan com apenas 17 anos, em 1971, lembra que o medo de cobras é enraizado em nossa cultura, seja nos filmes, nos livros e até mesmo em algumas religiões – em seu primeiro dia no instituto, ele mesmo também sentiu medo. “Me disseram que eu ia trabalhar no laboratório das cobras e eu fiquei apavorado. Conforme eu fui trabalhando, fui compreendendo aquele animal. E eu continuo aprendendo até hoje”, conta.

Para André, vale ressaltar que o medo, em certa medida, também é um recurso positivo: o excesso de confiança é o que geralmente ocasiona acidentes. “Às vezes as pessoas me perguntam: você não tem medo? Eu tenho sim. O medo é importante porque, com ele, você aprende a respeitar o animal e se respeitar.”

Ao longo da conversa, os cientistas também discutem o caso da naja de Brasília, que virou símbolo do combate ao tráfico animal e hoje integra o acervo do Museu Biológico do Butantan, e revelam diversas curiosidades sobre o mundo das serpentes: é verdade que elas são pegajosas? As cobras são agressivas? Será que elas podem sentir afeto pelos tutores, como gatos e cachorros? Descubra a resposta dessas e outras perguntas assistindo ao vídeo abaixo ou ouvindo no seu agregador favorito.


A saga da naja de Brasília

Em julho de 2020, um estudante de veterinária de Brasília foi picado por uma naja, serpente nativa da África criada de forma ilegal em sua casa. Ele foi internado e o caso ganhou repercussão nacional, dando início a uma investigação que culminou na apreensão de outras 16 cobras exóticas. Apesar das dificuldades de transporte impostas pela pandemia, o Butantan – único lugar do Brasil que possuía o soro específico para o envenenamento por naja – conseguiu enviar a imunoglobulina a tempo para que o estudante fosse tratado.

“A diretora do Hospital Vital Brazil, doutora Fan Hui, me ligou dizendo que precisaríamos enviar metade do nosso soro para salvar a vida do estudante. Ela me pediu para minimizar o manejo da naja que nós já tínhamos aqui no museu, para não correr o risco de acontecer um acidente aqui sem ter o soro em mãos”, conta Giuseppe.

Mas a história não terminou ali. A naja de Brasília foi capturada e, cerca de um mês depois, foi enviada para o Instituto Butantan. “Ela chegou aqui muito estressada e, apesar de ter melhorado bastante, continua agitada até hoje”, diz. 

A situação da naja foi um alerta para as consequências do tráfico animal e a importância da educação ambiental. Para Giuseppe e André, a inclusão desse tipo de ensino nas escolas é fundamental para evitar casos como esse no futuro.